Propostas classificadas em premiação da ALMG focam em agricultura mais sustentável
Cenário de mudanças climáticas impõe necessidade de mudar a forma de se produzir no Brasil e em Minas Gerais
O agronegócio é uma das principais molas propulsoras da economia não só do Brasil, como também de Minas Gerais. Considerado celeiro mundial, o País já lidera exportações de alimentos como soja, milho, café, açúcar e suco de laranja. Mas o contexto de mudanças climáticas imprime a necessidade de mudar a forma de se produzir na área.
Essa é, inclusive, uma das ações previstas para o Brasil reduzir a emissão de gases do efeito estufa em até 67% até 2035, considerando os níveis de 2005. O compromisso foi assumido na 29ª Conferência das Partes (COP29), principal evento global para discussão das mudanças climáticas, ocorrida em novembro deste ano no Azerbaijão.
Dessa forma, o País irá dedicar esforços para reduzir o desmatamento e recuperar áreas degradadas, além de expandir a produção agrícola de modo sustentável.
Incentivar esse tipo de produção agrícola foi um dos focos do Prêmio Assembleia de Incentivo à Inovação – Crise Climática, entregue neste mês pela Assembleia Legislativa de Minas Geais (ALMG), em parceria com o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC).
Entre as dez propostas de soluções inovadoras com potencial para prever, evitar ou minimizar as causas ou efeitos das mudanças climáticas no Estado de Minas Gerais, quatro se destacam justamente por propor uma nova forma de se produzir na agricultura.
Além de cada uma receber R$ 60 mil, também vai poder participar de um programa de aceleração do BT-TEC para viabilizar a chegada das propostas ao mercado.
Desafios para o campo
Para Júlio Bedê, engenheiro florestal e consultor da Gerência de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ALMG, o grande desafio com as mudanças climáticas está no campo.
“Apesar das cidades serem hoje detentoras de 85% da população e contarem com estrutura e problemas relativos ao enfrentamento de desastres muito relevantes, a área rural responde por 80% do território. Os eventos climáticos extremos se caracterizam por alterar a dinâmica social, econômica e ambiental dessas imensas áreas difusas.”
Consultor da Gerência de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da ALMG
Conforme salientou, nesse contexto, é complicado mensurar, administrar e dar a resposta necessária para não ter prejuízos econômicos e sociais. “Se o meio ambiente vai mal, a economia do Estado vai mal, porque nós temos aqui grandes cadeias produtivas como a do café, leite, pecuária bovina, grãos e hortifruti. Todas se relacionam com a segurança alimentar e com a geração de renda para a população mineira”, afirmou o consultor.
Na opinião dele, para Minas não ter perdas, é necessário trabalhar na adaptação. “Isso pressupõe o desenvolvimento de tecnologias, o que o prêmio de inovação propõe”, defendeu.
Ele deu como exemplo a cultura do café, que para alguns especialistas seria inviabilizada no Estado em 30 anos. “Se tivermos melhoramento genético do café, formas sustentáveis de fazer adubação e controle biológico de pragas e precisão na agricultura, por exemplo, já temos um diferencial. Nós conseguiremos nos adaptar”, destacou.
Atividade agrícola sustentável
As quatro soluções classificadas pretendem estimular uma produção agrícola mais sustentável, seja possibilitando o uso de bioinseticidas e fertilizantes orgânicos, seja promovendo uma pulverização localizada de inseticidas químicos a partir de diagnóstico preciso.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), estima-se que 20 a 40% da produção agrícola mundial é perdida a cada ano, em consequência de pragas que atingem as plantações, valor que corresponde a aproximadamente U$ 220 bilhões.
No Brasil, a perda anual decorrente do ataque de insetos nas lavouras é estimada em aproximadamente 7,7%, valor correspondente a quase 25 milhões de toneladas de produtos agrícolas e a perdas econômicas de U$ 17,7 bilhões, conforme a FAO.
Pedro Paulo Biccas Jr.
Jornalista (0003813/ES)
Cientista Político (USP)
Especialista em Planejamento Estratégico (FGV)
Especialista em Liderança, Mentalidade e Desenvolvimento Contínuo (PUC-RS)
Especialista em Mídias Digitais (FGV)